O pentecostalismo é uma heresia? Dons de línguas e curas não procedem de Deus?
Tags: batismo no Espírito Santo, dons espirituais, George O. Wood, heresia, John MacArthur Jr, línguas estranhas, Neopentecostalismo, pentecostalismo
Saliento que não tenho nada contra meus irmãos tradicionais, até porque boa parte deles são muito mais crentes e conscientes que muitos pentecostais e renovados. Mas como pentecostal convicto o que exponho nesta argumentação é minha posição (e creio que a de todo pentecostal) contra colocações sérias e inescrupulosas que alguns fazem sobre nossa fé e doutrinas.
Jesus, porém, respondendo, disse-lhes: Errais, não conhecendo as Escrituras, nem o poder de Deus (Mt 22:29).
O motivo para a controvérsia da vez foi o recente debate teológico sobre as colocações do influentepastor John MacArthur Junior, que classificou também o movimento pentecostal de “heresia”. Ele afirmou que as igrejas pentecostais e neopentecostais não são cristãs e classificou seus ensinamentos como desvios bíblicos. John ainda rejeitou a atualidade da manifestação dos dons de línguas e de cura como algo vindo de Deus. A questão mais polêmica é quando MacArthur considera que existe uma “adoração inaceitável a Deus” entre o movimento pentecostal e de renovação. Para ele esses movimentos abriram a porta para um erro teológico maior que qualquer outra aberração doutrinária nos dias de hoje.
E curai os enfermos que nela houver, e dizei-lhes: É chegado a vós o reino de Deus (Lc 10:9).
Do lado pentecostal, quem se pronunciou em resposta as declarações de MacArthur foi o presidente da Associação Mundial da Assembleia de Deus, pastor George O. Wood. O líder assembleiano publicou uma carta aberta após a conferência “Fogo Estranho” (organizada pelo ministério do pastor MacArthur) dizendo entre outras coisas: “Reconheço que desde o século passado surgiram aberrações isoladas no comportamento e na doutrina dos que se identificam como pentecostais ou renovados. Mas o movimento como um todo provou ser uma força vital na evangelização mundial, o cumprimento da promessa que Jesus fez aos seus discípulos em Atos 1:8. Em nome dos 66 milhões de adeptos e mais de 360 mil igrejas da Assembleia de Deus em todo o mundo, agradeço a Deus que a fé e a vida da igreja de Atos 2 ainda estão sendo seguidas e vividas até hoje”.
E há de ser que, depois derramarei o meu Espírito sobre toda a carne, e vossos filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos velhos terão sonhos, os vossos jovens terão visões. E também sobre os servos e sobre as servas naqueles dias derramarei o meu Espírito (Jl 2:28-29). Veja o cumprimento parcial desta profecia em Atos 2:4-39, tendo como evidência inicial o falar em línguas de vários povos presentes na festa de Pentecostes.
Discussões a parte, os pentecostais representam 70% de todos os protestantes do planeta (588 milhões). Mesmo sendo um movimento melhor desenvolvido e acompanhado a partir do início do século XX, o pentecostalismo foi o segmento protestante que mais cresceu na história da igreja desde a reforma. No Brasil a quantidade de membros de igrejas pentecostais também vem crescendo, o Censo 2010 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) notou este aumento em todas as regiões do Brasil e mostrou que a Assembleia de Deus é a igreja que mais cresce no Brasil. Dos mais de 22,2% de evangélicos brasileiros, 13,3% são de igrejas pentecostais o que significa que temos mais de 25 milhões de membros de igrejas como as Assembleias de Deus, Deus é Amor, Brasil para Cristo, Congregação Cristã no Brasil, Igreja do Evangelho Quadrangular, Igreja de Nova Vida e outras.
E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas (Mc 16:17)
Dizer que o pentecostalismo é uma grande heresia ou que a representa é opor-se a vários argumentos bíblicos nos quais se baseia o movimento. Constrangê-lo ao tratamento de maior aberração doutrinária da atualidade é ser indelicado e bem menos prudente que Gamaliel (At 5:34-40). Formular que alguns dons do Espírito Santo (cura, revelação, maravilhas, dom de línguas, profecia) foram úteis apenas para os primórdios da igreja cristã é ser cessacionista ao extremo por meio de argumentos e atropelos inconsistentes (1 Ts 5:19; At 11:17). Tentar desestabilizar a ortodoxia bíblica do pentecostalismo por mensurá-lo através de porciúnculas grupais ou de ações pontuais ignorando a história, dimensão e equilíbrio maior da categoria é no mínimo uma incoerência ou expressão mal intencionada (o que parece ser o caso de MacArthur, que já anunciou o lançamento de um livro de sua autoria intitulado: Fogo Estranho, o perigo de se ofender o Espírito Santo com louvor falso).
Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar (At 2:39).
O pentecostalismo argumenta com as Escrituras através dos relatos bíblicos da experiência do batismo e da doutrina dos charismas (dons) do Espírito Santo presentes no início da igreja e continuados em sua história militante. Deste modo o movimento tem fundamentação bíblica, teológica e histórica.
Bíblica por que a experiência do batismo no Espírito Santo com a evidência inicial do falar em outras línguas, os dons espirituais e a cura divina estão registrados no N.T e na experiência da igreja primitiva (At 2:4, 8; 19:1-7; 1 Co 14:4, 26); A corrente que diz que as línguas e dons espirituais cessaram, têm dificuldades de provar biblicamente o encerramento (o cessar) dessas atividades, recorrem a argumentações extra-bíblicas.
Teológica porque a sistematização da própria doutrina da pessoa do Espírito (Pneumatologia) e de sua ação apurada nas Escrituras evidencia-O agindo de forma influente sobre os que creem no Evangelho, dotando-os de poder e dons sobrenaturais a fim de testemunharem do Cristo Salvador (Mc 16:17, 20; At 4:30; 6:8; Rm 15:19; 2 Co 12:12).
Histórica porque ao longo do desenvolvimento da igreja cristã e do próprio cristianismo, são vários os relatos de experiências sobrenaturais entre os crentes. Anderson Allan, historiador pentecostal interpreta como predecessores do pentecostalismo na era cristã: Inácio de Antioquia 67-110; Policarpo de Esmirna 70-160; Justino Mártir 110-165; Irineu de Lião 130-202; Tertuliano 160-220; Pacômio 292-348; Agostinho de Hipona 354-430; Simão o Novo Teólogo 949–1022; Jansenitas 1640-1801; Serafin de Sarov 1759-1833; George Whitefield 1714-1770; Jonathan Edwards 1703-1758; Charles Finney 1792-1875; Dwight L. Moody 1875. Embora não haja registros ou indícios de derramamento do Espírito Santo durante a Idade Média, alguns autores mencionam que o valdenses, albigenses, e os frades mendicantes, falaram em línguas na Europa Meridional.
Que fareis pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação (1 Co 14:26).
Desde os tempos apostólicos houveram exageros, meninices e incompreensões dos crentes quanto ao sentido da glossolalia – dom de falar línguas estrangeiras sem nunca as ter estudado – e do propósito dos dons de poder (At 8:13-24; 1 Co 14:23-26; 1 Co 12:9,28), mas nem por isso podemos generalizar na afirmação de que os dons eram operações da carne ou que não provinham do Espírito. Faltou equilíbrio e distinção nas colocações de John MacArthur Jr!
Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas, tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria, e até aos confins da terra (At 1:8).
Concluindo, preciso fazer uma advertência dirigida aos pentecostais e neopentecostais. O pentecostalismo em suas crenças e manifestações foi de antemão mencionado por Jesus (Ele é onisciente) e também estava presente no pronunciamento escatológico de nosso Senhor (Mt 7:18-23). Posso dizer que os pré-pentecostais e os atuais pentecostais receberam uma chamada de atenção direta do Mestre, alertando aos mesmos a não se enganarem com o comportamento exclusivista de que a operação dos dons e das maravilhas são provas definitivas ou passaportes da salvação eterna. Por isso, todos aqueles que dentro do movimento não produzem frutos dignos da autêntica vida cristã e que fizeram ou fazem da graça negócio e dos dons comércio, que envergonham e comprometem os verdadeiros cristãos (2 Pe 2:2), que são indiferentes aos necessitados (órfãos, viúvas, presidiários e etc.), enganando-se de que porque receberam dons, Deus aprova o que fazem, serão lançados no lago de fogo e enxofre.
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